Encontro Territorial discute avanços e desafios para fortalecer a cadeia da avicultura no Sertão do São Francisco

O Setaf de Juazeiro sediou, nesta terça-feira (25), o Encontro Territorial de Fortalecimento da Cadeia Produtiva da Avicultura. O evento reuniu entidades executoras de Assessoria Técnica e Extensão Rural (Ater) e representantes das Secretarias Municipais de Agricultura do Território Sertão do São Francisco.

A atividade é uma iniciativa da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR),que por meio do programa Parceria Mais Forte, vai investir na estruturação da cadeia produtiva de ovos, uma atividade tradicional da agricultura familiar com amplo potencial de ampliação produtiva, organizacional e comercial.

O evento, realizado em parceria com a Bahiater e o Consórcio Sustentável Território São Francisco (Constesf), contou com uma programação que incluiu visita ao entreposto de ovos da comunidade Cacimba do Silva e à Fábrica de Rações Caatingueira, administrada pela Central da Caatinga. A unidade tem desempenhado um papel estratégico na região ao oferecer insumos de qualidade, com preços acessíveis, para criadores e criadoras locais.

Segundo Tiago Cruz, médico veterinário e técnico da Central da Caatinga, a ração é o principal custo da atividade, o que torna o trabalho da fábrica importante para a sustentabilidade da produção. “A Fábrica Caatingueira entra no circuito tentando baratear a ração, mantendo a mesma qualidade e oferecendo um pós-venda eficiente. Adaptamos a formulação conforme a categoria da ave e as condições de criação, sempre alinhados com a equipe técnica e com os agricultores”, explica Cruz.

A unidade possui flexibilidade para ajustar as formulações (pré-inicial, inicial, crescimento e postura) conforme as demandas das comunidades. Além da produção de ração, a Central da Caatinga apoia os agricultores na logística e na comercialização, tanto na loja física quanto na construção de novos canais de distribuição.

Projeto Territorial Prever Classificadoras de Ovos e Casas de Ração

Durante o encontro, Raul Décio, gerente territorial da CAR, apresentou o conjunto de ações estruturantes previstas para os dez municípios do território. A iniciativa foi definida como prioritária após diálogo com prefeitos e secretários municipais.

Entre as ações previstas destacam-se:

  • Implantação de Classificadoras de Ovos: Uma unidade por município, beneficiando cerca de 20 famílias por comunidade, com assessoria técnica garantida pelas prefeituras.
  • Estruturação de Casas de Ração: Uma unidade será construída em Remanso para atender Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes e Sento-Sé. A Central da Caatinga será responsável pelo fornecimento para Juazeiro, Curaçá, Uauá, Canudos, Sobradinho e Casa Nova.

De acordo com Raul Décio, o projeto é um piloto que já conta com compromisso dos municípios. “Os prefeitos, nesse primeiro momento aderiram ao compromisso, por isso o consórcio está junto, porque vai certificar essas casas, para que toda essa produção do ovo seja comprado pelas prefeituras municipais para a alimentação escolar, alimentação hospitalar”, explica.

Certificação Sanitária: O Entrave para Novos Mercados

Apesar de existirem empreendimentos estruturados, como o entreposto da Cacimba do Silva, a maioria dos produtores permanece limitada ao mercado local, pois opera apenas com o Selo de Inspeção Municipal (SIM).

Esse cenário poderia avançar com a vigência do Decreto nº 12.408/2025, assinado em março pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O decreto flexibiliza a comercialização de ovos, mel e leite produzidos sob inspeção municipal ou estadual, permitindo a circulação nacional, desde que os serviços estejam cadastrados e ativos no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), sistema federal que habilita a equivalência.

O Consórcio Sustentável do Sertão do São Francisco já possui esse credenciamento, mas Juazeiro ainda não aderiu ao SIM do consórcio. Essa não adesão impede que produtores locais acessem mercados mais amplos, como Petrolina e outros estados. Segundo Tiago Cruz, o diálogo com a prefeitura para a adesão está em andamento, mas o processo de formalização ainda não foi concluído

Márcio Irivan Passos, da Cooperativa dos Empreendedores Rurais de Cacimba do Silva e Região (Coopercar) e integrante da diretoria da Central da Caatinga, destacou a ausência de representantes da Secretaria de Agricultura de Juazeiro no debate realizado no Setaf.Para ele, o momento é estratégico para alinhar políticas públicas, avanços sanitários e ações coletivas que possam fortalecer a cadeia produtiva no município.

Importância da organização em rede 

Para Edmilson do Santos Nascimento, assessor especial de Curaçá, o encontro representa um avanço importante para fortalecer a avicultura no território. “O projeto tem um potencial enorme para melhorar manejo, produtividade e organização em rede. Mas é essencial avançar na certificação sanitária e na articulação para comercializar em maior escala”, avaliou.

Ele reforça que programas institucionais, como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), são fundamentais, mas não suficientes. “A gente não deve esquecer que o mercado convencional está aí para receber esse produto de forma certificada”, destaca. Nesse sentido, Edmilson defende uma atuação articulada das Secretarias de Agricultura e do Consórcio na estruturação dos serviços de inspeção e na ampliação das oportunidades comerciais: “O consórcio tem essa função de dialogar com todas as secretarias e promover essa comercialização”.

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